O objetivo desta partilha sobre a família Martin é relatar a pedagogia que eles usavam na educação das filhas, uma formação pautada não somente para bens materiais, mas para o Céu. Toda educação tem que ter uma finalidade, ou então ela se perde. Na família Martin, não era diferente, eles educavam as filhas para o Céu. Apesar dos temperamentos e personalidades diferentes, eles fizeram com que elas quisessem ardentemente o Céu, tanto é que todas são santas ou estão em processo de beatificação, como Leônia.
Dar a vida natural é o de menos, o mais importante é desenvolver nos filhos a vida divina, como dizia Santa Zélia. Antes, inclusive, das crianças nascerem esta mãe tão virtuosa fazia uma oração que era assim: “Senhor, os meus votos são que este vos seja consagrado, levai-os para Vós antes que se perca”. Vejamos que o amor que a Santa sentia por suas filhas era um amor abnegado, isto é, um amor desinteressado sem o intuito de apossar e nem possuir nenhuma das filhas, como vemos tão naturalmente hoje em dia com tantas mães que amam os filhos mais do que a Deus e martirizam-se com a ideia de que um dia a morte chegará.
Essa santa mãe nos ensina o que é verdadeiramente amar os seus filhos, sabendo para que eles foram feitos e que nenhuma felicidade trivial os contentará senão a plenitude divina.
Qual a definição de educar que está no Catecismo da Educação? Educar é fazer com que alguém se desentranhe de si mesmo, é fazer de uma criança um homem, de um homem um cristão e de um cristão um Santo eleito! Esses pais Santos nos mostram, com provas, que sabiam educar verdadeiramente, afinal, aquelas crianças tornaram-se santas!
Toda a vida das meninas foi de forma exilada, esperando o encontro com o Criador, isso é dirigir bem uma família, educar ela para o Céu, desenvolvendo as virtudes na igreja doméstica.
Maria, a primogênita, no processo de santificação dos seus pais, disse: “meu pai e minha mãe possuíam uma fé profunda e ouvindo-os falar da eternidade, sentíamos-nos dispostas, por mais novas que fôssemos, a considerar as coisas do mundo como pura vaidade”. Isso era algo tão real na vida das filhas que a própria Santa Teresinha já afirmou em uma de suas cartas “Quanto mais vivo, mais acho que tudo é verdade que tudo é vaidade sobre a terra”. E eles tinham condições financeiras, mas viviam uma vida tão desapegada dos bens materiais que só o que desejavam era o Céu!
O primeiro ponto que a família Martin tinha que é importante destacar para vivermos em nossas famílias, ou até mesmo em nossas vidas, caso os leitores sejam vocacionados à vida religiosa, é que Deus é o primeiro senhor a ser servido, tudo que eles faziam giravam em torno do Nosso Senhor.
Em uma das cartas, a Celina, uma das filhas do casal, dizia que existia um termo chamado “Liturgia do lar”, que era basicamente todas as ações da casa girar em torno do tempo litúrgico que a Igreja estava celebrando, das solenidades e festas religiosas, das orações.
Um fato interessante para aplicarmos em nossas vidas comuns, como era a deles, é que eles se reuniam diariamente diante da imagem de Nossa Senhora para fazerem suas preces e orações diárias, e sabendo ou não, aquele momento é rico no ganho de indulgências plenárias.
A busca da santidade da família era vivida, diariamente, por meio do testemunho diário dos pais, as filhas também aspiravam às mesmas coisas.
A vida de oração deles também era particular, pois sempre faziam muitas novenas, tanto é que Leônia, a filha que tinha um temperamento difícil, quando nasceu, tinha alguns problemas de saúde e Santa Zélia prontamente fez uma novena com uma irmã, que na época não era Santa ainda, a Maria Margarida Alacoque, conhecida pela devoção ao Sagrado Coração. É belo analisar como Santa Zélia tinha uma entrega à confiança divina e aceitava todos os desígnios de Deus.
O zelo pelo lar também era algo comum na família, principalmente em maio, mês dedicado a Nossa Senhora. Elas adornavam a casa com flores, fazendo como um gesto de amor. São exemplos como esse que percebemos que não é vazio gastarmos tempo com decorações, ou coisas que a natureza feminina usa para espalhar docilidade, caso ofertemos para quem deve ser ofertado, tudo pode ser um gesto de amor para Deus, até um vaso com flores.
A Zélia, para além dos cuidados com o lar, tinha uma profunda comunhão com Nosso Senhor, frequentava missa diariamente e sempre que acordava as crianças perguntava: “Já entregou o coração para Jesus hoje?” Isso demonstra que sempre devemos fazer o mesmo que essas crianças e fazer um oferecimento do dia para o Nosso Senhor. Apesar das distrações que o mundo nos oferece, precisamos lembrar para que fomos feitos. Ela até ensinou uma oração para as meninas que era assim: “Eu vos ofereço meu coração, ó meu Deus, dignai-vos tomá-lo para que nenhuma criatura possa possuí-lo senão Vós, meu Bom Jesus”.
Diante dos esforços de fazer uma família santa, os pais das crianças viam os frutos diariamente. Tem um relato no livro “História de uma família” que diz que a Teresinha foi precocemente manifestada a cenas de piedade coletiva que eram transmitidas no lar, essas cenas vivas de devoção, inflamavam-lhe a imaginação e alimentavam o fervor.” O imaginário de Santa Teresinha, a construção da sua pequena via de amor foi forjada, primeiramente, pela devoção dos seus piedosos pais.
E na conjuntura hodierna, esse assunto deve ser um tópico abordado pelos noivos, principalmente, como farão a educação dos filhos, pois o imaginário é construído, também, pela vivência, então educar também é ter cuidado com os livros, filmes - que devem ser poucos e sazonais, e músicas que as crianças ouvem. Ademais, vale postular também que a rede de apoio que cerca as crianças é deveras importante para forjar o imaginário dos filhos, por isso é tão importante ter amizades que comungam dos mesmos valores.
São Luís prezava tanto pelos sacramentos, e hoje não vemos algo assim nas famílias, ele batizava as filhas assim que elas nasciam, um caso interessante foi o batismo de Leônia, o qual Santa Zélia nem foi, pois estava se recuperando do pós-parto. Nos dias de hoje, com tantos empecilhos que colocamos em prol das nossas vontades, o casal vai de encontro às ideologias mundanas.
Indubitavelmente, eles tinham uma intimidade com Deus, não só eles, mas as filhas também, Santa Teresinha vivia uma verdadeira infância espiritual - em um bom sentido - com Deus, além de tratá-lo como Pai, era uma filha, também.
São Luís era conhecido como alguém que se mortificava, se sacrificava ao máximo, era conhecido por alguém que comia o pior pão. Muitas vezes, nos dias de hoje, faltam bons pais para formarem bons filhos! Foi com o exemplo das mortificações de Santa Zélia e São Luís, que as filhas se mortificavam pelas irmãs.
Quantas vezes não conhecemos famílias ou até filhos, que faltam pais que se mortificam para que exista a santificação das famílias?
E para além do âmbito familiar, nós precisamos da nossa santificação não importa em qual âmbito da vida estejamos, pois cumprir o nosso chamado precede uma vocação, cumprimos o nosso chamado quando estamos em comunhão com Cristo, isto é, fazendo a vontade dEle em nossas vidas.
Com essa pequena partilha sobre a família Martin, podemos chegar a conclusão de inúmeras coisas. Em primeira instância, a santificação precede um estado de vida, Deus nos quer, independente se estejamos casados, celibatários, religiosos. Ele quer que estejamos em uma sagrada comunhão com Ele. Com a canonização do Martin, de Santa Teresinha e a beatificação das filhas, percebemos que podemos tirar proveito do matrimônio, que por vezes é banalizado, e nos santificarmos através dele, com o intuito de algum dia participarem da Ceia Celestial.
E para além do sentido místico do matrimônio e de salvar a si próprio, é dever dos esposos levarem um ao outro ao Céu, assim como fez os Martin, e trazer almas para o mundo que tenham essa vontade, o pertencimento a Deus e o desapego ao mundo. Eis uma santa família, que a família Martin seja uma luz em todas as famílias que estão em uma crise moral hoje.
Artigo escrito por Marina Rabelo, membro do grupo Gratia et Labore.
Conheça o grupo de estudos em busca da verdadeira essência e vocação feminina. O Gratia et Labore faz parte do apostolado do @centrodomhenriquesoares em Aracaju/SE.